Os anos posteriores do meu último período no ensino médio tive uma amizade sincera. Lembro como se fosse hoje… éramos bem diferentes. Engraçado foi o nascimento desta relação: Logo no primeiro dia fomos forçados a sermos parceiros dividindo o computador durante o curso técnico profissionalizante devido à falta de equipamentos. Todo santo dia a noite na mesma cadeira estávamos ao lado. Vendo constantemente o sorriso do outro, é impossível resistirmos a um sentimento mais forte.
Durante aquele turbilhão de sensações no início da vida adulta chegamos à afinidade de frequentarmos a casa do outro conhecendo os pais. Tínhamos a mesma rotina, gostávamos das mesmas coisas, porém nossos objetivos eram distintos. Eu lutava por um sonho e ela pela lógica do crescimento. Nós sabíamos… aquela amizade no futuro iria acabar, porque enquanto um continuava insistindo na busca daquilo que já se mostrava impossível, outra aproveitava o tempo e amadurecia.
Vários anos passaram e durante o período da faculdade, graças ao estudo ela conseguiu trabalhar como programadora numa respeitada empresa da cidade, algo que tanto queria. Distanciamos cada vez mais…pois eu ainda vivia de bicos na área, na esperança de que contornaria o imutável destino. Minha especial amiga sempre me aconselhou a focar na formalidade primeiro, cuidando do presente, pois sonho é algo que não se tem certeza. Só que a teimosia me deixava cego da realidade.
Num certo dia ela me informou que na empresa buscavam nova pessoa para preencher uma futura vaga. De imediato fiquei sem entusiasmo, pois já me encontrava sem confiança, preso na lama do desespero, além do fato de que se desse certo teria de acostumar a vê-la todo dia num ambiente de concorrência, completamente diferente da inocência que a conheci. No fundo não queria, mas aceitei fazer o teste. Era o início do adeus, porém só consegui entender tempo depois…
Dois meses passaram e numa tarde ela estacionou seu carro em meu portão. A relação de amizade ainda não estava cortada, mas naquela altura já dava para contar nos dedos a raridade das visitas, onde as conversas também não possuíam o intenso brilho iluminando nossos olhos. Durou aproximadamente cinco minutos, não me recordo ao certo… convidei ela para entrar, a mesma recusou. Ela queria me contar alguma coisa longe dali, porém recusei também, uma espécie de “troco-brincadeira”. Em seguida ouvi um simples thau enquanto virava a chave do veículo preparada para partir.
Aproximadamente depois de dois meses, num sábado, a empresa ligou em casa referente a mais uma etapa de testes. Achei estranho devido à demora, porém naquela altura coincidentemente na próxima semana eu já estava acertado estagiar em outra, uma espécie de rival daquela, entretanto resolvi aproveitar e participar da atual etapa. Com a cabeça focada na próxima, pela primeira vez na vida faria uma entrevista seguro, calmo…
Realmente me encontrava assim, entretanto durante o desenrolar da amistosa conversa surgiu a famosa pergunta se eu conhecia alguém na equipe. Respondi que somente Ela… e fui surpreendido com a notícia da mesma não trabalhar mais ali, por ter conquistado e optado por outro emprego na capital. Havia mudado de cidade, longe do pacato interior.
Naquele dia no carro foi a última vez que a vi. Se pudesse voltar o espaço-tempo minutos antes, naquele instante aproveitaria todo o restante com um forte abraço…
Na real sabemos que o amor existe, mas só aprendemos a mantê-lo vivo quando já perdemos vários. Você não manda em seu coração, entretanto é responsável pela solidão. Outras oportunidades surgem, podendo ser melhores ou piores, mas nunca serão as mesmas das desperdiçadas. Portanto antes de receber adeus, pense nos erros que cometeu. Não adianta querer, uma história nunca volta após se arrepender…
Autor: Wesley Mina