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Xeque-mate

– Como está garota? – O receio de uma resposta negativa que detalhasse uma tristeza escondida surgiu em segundos.

– Woow! Olá rapaz! Estou bem e contigo? Pensei que demoraria mais para receber novamente um e-mail.

– Há Há! Pois é… não demora tanto né, temos ao nosso favor a realidade do tempo passar rápido demais, mas já falei que quando menos esperasse receberia algum de tempos em tempos. Não começa enrolar, somente um simples tudo bem?

– Hã? – ela não compreendeu, por acaso ele queria ouvir algo ruim? – Como assim? Está tudo bem comigo.

– Sabia que acharia estranho, é que sinto… na verdade tenho receio de que não esteja bem.

– E posso saber por qual motivo sente isso?

– Seus textos… – sua amiga desconfiou do que se tratava, mas se mantinha quieta nas teclas do messenger aguardando a continuidade – Seu novo livro de poemas é muito obscuro, praticamente o oposto do primeiro. Não sei… sinto que talvez esteja descarregando sentimentos tristes nele por não ter alguém para se abrir…

Ela havia acertado o suposto assunto e ficou surpresa pelo comentário, não propriamente pela suposição, mas pelo fato dele já ter dito que abandonou a plataforma. Tentando disfarçar para não responder o principal tema, tentou alimentar a brecha surgida.

– Ué! Você não abandonou a plataforma? – dedos fervendo no celular louca para dar uma contra resposta imediatamente.

– Opa, com certeza abandonei e confesso que a saudade bate de vez em quando, porém em nenhum momento disse que deixaria de acompanhar seus escritos. Hora bolas, qual seria o problema deu salvar seu perfil nos favoritos do navegador? Desta forma consigo ler seus novos textos mesmo não estando logado na plataforma.

Naquele momento ela agradeceu por existir a incógnita de seu rosto, pois demonstraria uma reação bem engraçada, talvez o primeiro meme registrado para início do próximo ano.

– Por mais que podemos ser quem quisermos nas histórias a poesia faz parte de uma classe especial, sabe disso. É o gênero mais próximo de nossos sentimentos e para muitos autores torna-se a válvula de fuga, a voz companheira de períodos complicados.

Momentos atrás os dedos de sua amiga estavam dispostos a argumentar infinitamente, mas como mágica uma trava surgiu, limitada apenas em continuar lendo a preocupação do amigo oculto.

– Olha, você tem o direito de se resguardar, isolar-se e até ignorar. Compreendo, todos passamos por momentos difíceis e neste contexto atual da sociedade é difícil confiar em alguém, parece que não há corações verdadeiros, apenas atores interpretando papeis por determinado período. Mas lembre-se que nunca existirá unanimidade de um perfil. Nada de outro mundo, apenas a lógica da probabilidade. De tanto nos decepcionarmos uma hora surge alguém legal em nossas vidas, pessoas que lhe desejarão tudo de bom, que não precisam ver e ouvir, apenas sentir que do outro lado o próximo merece sorrir. – Ele sabia, talvez não tivesse nunca mais um retorno, mesmo assim continuou:

– Vim lhe desejar um feliz natal e já aproveitar para o ano novo também. Não sei como é a relação com sua família, mas torço para ser das melhores, pois nesta época do ano não há melhor felicidade que estar ao lado das pessoas amadas. O ano praticamente acabou e espero que tenha conquistado parte dos seus objetivos. 0,1% já é mais que suficiente, pois totalidade levamos uma vida inteira e nunca conseguiremos. Se mesmo assim não conseguiu, o próximo bateu na porta já lhe alertando a se preparar para a continuidade dos desafios. Esteja preparada para qualquer obstáculo. É assim que devemos virar cada página do nosso livro chamado vida. Cada ano é igual a um novo capítulo com novos personagens e até mesmo repetidos se permitir existir. Se precisar conversar com alguém, aquele coadjuvante invisível sempre estará do outro lado da tela.

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Praticamente um ano havia passado e a troca de mensagens entre os dois continuaram. Aos poucos a frequência diminuía, mas a importância de tal amizade aumentava. Na rotina da vida talvez jamais fossem se tornar amigos. Mesmo país só que em regiões diferentes, longe o suficiente para impedirem de se aproximarem. A idade permanecia uma incógnita, pelo menos para um dos lados. Adulto vs criança? Homem vs mulher? Humano vs alien? Era impossível adivinhar… mas isso não denegria a inocente amizade, ingênua para futuramente recusarem a verdade. A beleza do mistério, curiosidade do segredo… ingredientes que diferenciavam o prato da relação. Linda só que ao mesmo tempo falha…

O lado ruim de uma amizade regada com imaginação é o receio de ser destruída na realidade, portanto até quando aguentariam responder ao outro? O mundo em que se conheceram não era mais o mesmo, talvez já não fosse antes, mas o destino de uma simples troca de mensagens se transformou na morada de outro alguém especial. Campos de chat eram limitados para ambos, pois suas conversas ultrapassavam o limite aceitável. Mensagens foram substituídas por e-mails, onde cada nova notificação era a certeza de longos parágrafos. Assuntos dos mais diversos, desde as músicas que ouvem ao maior mistério do universo. Pareciam ter argumentos infinitos… mas talvez fosse apenas ilusão…

Era aniversário da suposta garota e o plano que veio planejando durante meses evaporou como água se defendendo do sol. Ele sabia onde esta conclusão poderia chegar, uma espécie de filme se repetindo de tempos em tempos. O mesmo final relembrando cicatrizes do passado recente e marcante. No presente alguém demonstra se importar contigo, só que em seu interior a voz da intuição aconselha afastar. Medo de se machucar de forma que não possa se recompor da dor. Um coração nunca conseguiu sair do ninho, pois sempre que tentou falhou.

Palavras encantam, mas podem ser a mesmas que enganam. Aquilo não era novidade pois já tinha experimentado o que não se pode enxergar, tocar, amar… sentimentos dando lugar a conspirações e afetando a mente que por muito tempo permaneceu doente. Mas tais lembranças hoje são apenas registros de aprendizados, pois de tanto errar aprendeu a desconfiar do injusto julgamento. Por mais que barreiras ocultas desafiassem a pureza da exótica amizade, desta vez aceitaria insistir em vez de abandonar conforme antigas passagens.

O presente que gostaria de dar seria adiado, pois alguém ainda não estaria preparada para receber. Era necessário lapidá-la, fazê-la sentir-se grande novamente, fortalecendo a mente e purificando sua alma, um simples viver sem se esconder… Ele tinha voltado ao lar, mas nesta improvável ironia, agora era a casa de sua amiga que se tornou vazia. Não havia novos textos, apenas um lugar frio, triste, sem brilho… com a pergunta da onde se mantinham as ocultas poesias.

Qual o custo de um recomeço? É muito difícil injetar ânimo em alguém que não se sabe o nível do tropeço. Sua exata resposta permaneceria guardada com ela, mas não era a única que mantinha segredos. Ele tinha a carta na manga e jamais arriscaria usar em qualquer rodada. A amistosa disputa se aproxima de um fim e sua estratégia a trará de volta ao jogo. Enquanto aguarda o momento apropriado, sozinho permanece escrevendo seus textos… até finalmente registrar o xeque-mate deste roteiro.

Autor: Wesley Mina

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